O período de transição agroecológica é cheio de desafios, as dúvidas surgem a todo momento, perguntas como, “pode usar este insumo?”, “e agora, como controlo o mato sem o veneno?” ou “como vou adubar a lavoura?” são extremamente comuns e é impossível apresentar uma receita ou fórmula mágica que resolva todos os problemas de uma única vez, por isso a Rede Bem Viver estimula a transição e não a ruptura.
A mudança deve ser radical nos princípios, mas dócil na ação, isto minimiza o risco de erros e traz resultados mais satisfatórios a família camponesa, ao meio ambiente e a comunidade.
O processo de transição agroecológica não é específico da unidade de produção, compreende a mudança para um novo jeito de pensar, que embora seja simples na fala, na sua execução acaba por ser mais complexo, a família camponesa precisa conhecer melhor sobre sua terra, a fisiologia das plantas e animais, sobre o clima. É preciso entender o tempo natureza e trabalhar em harmonia com os ciclos naturais. Para isso, ter apoio de agentes técnicos e de grupos, como associações, coletivos, movimentos e redes, como é o caso da Rede Bem Viver se faz importante. A cooperação e a ajuda mútua são fundamentais, afinal de contas, agroecologia se faz em mutirão.
Como forma de ajudar a responder algumas dessas perguntas, nesta matéria é apresentado o protocolo de produção de um biofertilizante com insumos encontrados na roça mesmo. E que caso não tenha todos os ingredientes na sua unidade de produção, sugere-se que à busca em alguma unidade de produção de famílias vizinhas, realize uma troca.
O biofertilizante é um preparado que ajuda no crescimento das plantas, resistência ao estresse climático (muita chuva ou muita seca) na melhoria da saúde do solo como um todo, esta receita em específico, irá permitir resultados visíveis em pouco tempo, mas isso não significa que uma única aplicação fará diferença, é necessário manter o uso do preparado a longo prazo. Até mesmo, inovar, produzir sua própria receita de biofertilizante, o etino biofertilizante.
Ingredientes:
5 kg de folhas de ervas nativas encontradas em maior abundância na unidade de produção;
5 kg de cinza de fogão;
5 kg de bagaço de cana triturado;
5 kg de pseudo-caule (tronco) de bananeira jovem;
10 kg de esterco bovino fresco;
10 l de urina de gado;
10 l de garapa;
Equipamentos:
1 tambor de aproximadamente 240 l;
1 colher de madeira (cabo de enxada);
1 balança;
2 bacias ou baldes;
1 facão;
1 caneco;
1 peneira fina;
1 mangueira;
1 pano de algodão cru;
4 galões de 50 l.
Observação: Além dos equipamentos utilizados para o preparo do biofertilizante, é necessário 1 galão para armazenar a urina de gado, 1 balde com tampa para coleta do esterco. Recomenda-se que instale a tambor a pelo menos 50 cm de altura do solo, pode ser num barranco ou num palanque. O que não pode é ter desculpa para deixar de produzir seu biofertilizante.
Modo de preparo:
Colha as ervas nativas de preferência por meio do arranque manual (o famoso puxão), pois é interessante que as raízes também possam ir para composição do preparado. Com o auxílio da balança pese as ervas nativas e depois rasgue-as com as mãos e deposite no tambor. Corte o tronco da bananeira em pequenos cubos, cerca de 5 x 5 x 5 (cm) e deposite no tambor.
Peneire a cinza com auxílio da peneira, pese-a e deposite no tambor. Prepare a garapa e o bagaço triturado e deposite junto dos demais ingredientes (urina de gado, esterco fresco). Feito o procedimento, complete com água limpa.
É importante agitar o biofertilizante diariamente para que haja uma boa fermentação, a forma indicada é que com o auxílio da colher de madeira (cabo de enxada), a pessoa faça movimentos circulares até que se forme um redemoinho, quando ele estiver pronto, faça o mesmo procedimento, mas para o outro lado, isso vai “quebrar” o redemoinho e produzir um novo na outra direção. Faça esse procedimento três vezes. Em aproximadamente 30 dias o biofertilizante estará pronto (quando para de fermentar).
Use a tampa apenas para proteger a boca do tampor, pois ajuda na proteção contra insetos ou transbordamento em caso de chuva. Não vede o recipiente, pois este biofertlizante precisa de respirar.
No dia de coleta do preparado, mexa o biofertilizante normalmente, aguarde cerca de 30 minutos para os sólidos decantarem e use a mangueira como sifão, e o pano sobre a peneira como um filtro, para que só vá realmente o líquido. Feito o procedimento, o biofertilizante pode ser armazenado por até 06 meses.
Recomenda-se seu uso na proporção de 400 ml para preparo de 20 litros de calda e pode ser usado junto da água de vidro na proporção de 50 a 60 ml de calda por planta. A aplicação pode ser feita no solo, antes do cultivo, no tronco no caso do café, ao menos 03 vezes ao ano, no pré-colheita, pós-florada e enchimento do grão.
Por Assessoria de Comunicação.
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